Certamente você já passou pela BR-101 próximo à Florianópolis e viu essa montanha do lado esquerdo da via. O Morro do Cambirela é o ponto mais alto da região, e chama muito atenção nas proximidades da grande Florianópolis.
Ele está situada no maciço de mesmo nome, em Palhoça. Sua altitude é de 1052 metros, o que o torna o ponto culminante do município e da região, destacando-se pelo fato de elevar-se praticamente a partir do nível do mar até mais de um quilometro de altura. Está situado no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e domina toda a Baía Sul.
O Cambirela é cercado de lendas e fatos históricos. O mais recente foi a neve que ocorreu em 2013, onde o topo dos picos da Serra do Tabuleiro ficaram semelhante à Cordilheiras dos Andes vistos da baía.
Também houve um acidente de avião em 1949. Mais precisamente na tarde chuvosa do dia 06 de junho, o avião Douglas, DC-3 C-47, do 2º Grupo de Transporte (2º GT) da Força Aérea Brasileira, procedente do Rio de Janeiro com destino a Uruguaiana no Rio grande do Sul, depois de fazer escalas em São Paulo, Curitiba e Florianópolis, colidiu com a Serra do Cambirela, explodindo e matando os vinte e oito ocupantes (seis tripulantes e vinte e dois passageiros). Na época foi considerado o maior Desastre aeronáutico do Brasil. As equipes de busca levaram três dias para resgatar todos os corpos.
Em sua formação geológica, o Cambirela é um vulcão extinto. O fato de ter águas termais na região comprovaria a teoria. Toda a região, incluindo parte do sul da ilha de Santa Catarina, é compostas por rochas vulcânicas de 590 milhões de anos, sendo as fontes termais resquícios desse período. Além disso, as formações rochosas encontradas no Cambirela são de granito e basalto, uma mistura interessante comumente encontrada na região, fronteira entre a Serra do Mar e a Serra Geral, ambas com formações geológicas distintas.
Segundo o dicionário tupi-guarani, o nome Cambirela vem de kambi, que significa “seios de leite” e reya, que é “muitos”, provavelmente uma referência aos vários picos do Maciço do Cambirela e as nuvens e cachoeiras que embelezam o morro. O local é cercado de lendas, como as que tentam explicar luzes vistas na montanha com a presença de boitatás ou mesmo sobre a presença de OVNIs.
Uma das histórias bruxólicas mais conhecidas de Florianópolis, que narra a origem das pedras do Itaguaçu, fala também do chamado “gigante do Cambirela”: nela, as bruxas organizaram uma festa na praia, com todos os personagens folclóricos convidados, exceto o diabo por seu fedor e atitudes antissociais. Este aparece na festa enfurecido e transforma as bruxas em pedra. O gigante, que acompanhava a festa de longe, viu e chorou tanto que o choro virou o mar e se deitou para nunca mais levantar. É possível a cabeça, nariz, pescoço, tronco, pernas e pés do gigante, formados pelos picos dos morros próximos, de certos pontos da cidade, com o Morro do Cambirela servindo como um travesseiro, sendo a própria montanha chamada de gigante por vezes.
Nas artes, por sua importância visual, o Morro do Cambirela aparece em várias pinturas ao longo do anos. Algumas delas incluem “Entrada Norte da Ilha de Santa Catarina”, feita por George Anson em 1740; “Vista da Baia Sul da Ilha de Santa Catarina cidade de Desterro”, de Charles Landseer em 1824; “Panorama de São José e Cambirela” feita por Debret em 1826; “Vista da Antiga cidade de Desterro”, de Joseph Bruggemann em 1868; e a “Vista da Baía Sul” de Victor Meirelles em 1847(imagem).
Ascensões ao topo do Cambirela
O registro mais antigo de uma subida ao Cambirela até agora encontrado, data de 1934, e foi publicado na edicão quinzenal de “O Apóstolo” de 1º de outubro de 1937*. O trecho do artigo intitulado “Devagar se vai ao longe”, assinado pelo Padre Arnoldo Bruxei, S.J.
Da década de 40, existem outros relatos muito interessantes de Padres que subiram o Cambirela, entre eles o do incansável Padre Roberto Rambo, S.J. Existem dois registros das suas subidas ao topo do Cambirela, sempre na companhia de outros Padres e alunos do Colégio Catarinense. As subidas tinham caráter educativo, extra-classe, oportunidade em que os alunos podiam aprender principalmente sobre geografia, filosofia e ciências naturais, alem vivenciar os verdadeiros valores que só o montanhismo pode proporcionar como; espírito de equipe, senso de preservação, superação pessoal e principalmente; instigar nos jovens alunos a se questionarem pelo real sentido da vida. As subidas dos alunos eram sempre acompanhadas de Padres.
Para subir ao Cambirela existem três opções. Todas elas exigem bastante esforço pois o início é praticamente do nível do mar, subindo até cerca de mil metros de altitude. Muitos obstáculos estão no caminho dos trilheiros e o uso das mãos é uma constante na conquista deste gigante. Em seu topo é possível enxergar toda a Serra do Tabuleiro e o litoral em uma visão panorâmica que certamente estará em suas lembranças!
A melhor época para conquistar o gigante é na Temporada de Montanha. De maio à setembro, quando o clima mais frio espanta as cobras (muito comuns no local) e também torna mais agradável e menos desgastante a subida. Na região existem outros picos para serem explorados: o Pico do Tabuleiro é mais alto que o Cambirela (1.260m) mas é uma trilha mais acessível – vale muito conhecê-lo também!
Quer te aventurar conosco no Morro do Cambirela, saiba mais aqui em nossos roteiros na região.
Fontes:
Cambirela fragmentos da sua história, Silvio Adriani Cardoso.
Biblioteca Central – Padre Aloísio Kolberg do Colégio Catarinense- Florianópolis/SC
Tragédia de avião no Cambirela
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Sobre o autor:
Pablo Campozani, coordenador da Top Trip Adventure.