Muito antes da Maria Fumaça turística começar a circular entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa, existiu uma Ferrovia extremamente importante na região – A Ferrovia do Vinho. Construída para escoamento de produção de uma área muito próspera, Bento Gonçalves crescia e o tráfego de cargas aumentava.
A ferrovia Porto Alegre–Caxias do Sul teve um ramal construído a partir de Carlos Barbosa pelo Governo do Estado em 1918, até Garibaldi, e até 1919, até Bento Gonçalves. Nos anos 1970, o ramal foi estendido até a estação de Jaboticaba, construída no Tronco Principal Sul (Lages-Vacaria-Roca Sales) – que faz parte da chamada Ferrovia do Trigo.
Este trecho operou até meados dos anos 1976 com trens de carga e passageiros. Entre de 1978 e 1990, um trem turístico operou no percurso de Carlos Barbosa, passava por Garibaldi, Bento Gonçalves e terminava em Jaboticaba. Somente em 1993 que o trajeto atual da Maria Fumaça foi formatado e a parte de Jaboticaba esquecida de vez. Eis que surge a Trilha da Ferrovia do Vinho.
Do centro de Bento, até a estação São Luiz das Antas, passando pela Jaboticaba existem trechos abandonados da antiga ferrovia, túneis escavados em rochas, vagões abandonados e muita aventura para quem curte fazer trilhas. Na região, existe um projeto muito bacana para recuperar trechos da antiga ferrovia, permitindo passagem por locais que sofreram desmoronamentos ou onde a vegetação cresceu muito. Projeto de restauração do Trajeto do Vale do Rio das Antas para Caminhadas e Trekking, criado pelo pessoal da Indiada Buena – Empresa de Turismo da região, encabeçada pelo Cristiano da Cruz.
No trajeto que tem uma altimetria que chega a 540m em espiral, existem diversos túneis escavados na rocha. Mas um deles chama muito atenção: túnel em Y. É um túnel onde a Ferrovia do Trigo (ainda ativa) se cruza com Ferrovia do Vinho. Chamado de Túnel Corujão, ele tem 525 metros de comprimento e foi inaugurado com a presença do Ministro da Guerra, recebendo este nome devido à um desmoronamento ocorrido na inauguração – onde várias corujas saíram voando e assustando os presentes.
Na saída do túnel Y onde há a interseção existe um cemitério de vagões – ótimos para quem gosta de bater fotos estilosas. Eles seguem da saída do túnel até a estação Jaboticaba, que hoje serve de moradia. Já no final e em sua parte mais alta existe uma antiga vila do Batalhão Ferroviário que construiu a ferrovia.
Uma das coisas mais interessantes deste trecho abandonado é que a linha contorna duas vezes o morro de Jaboticaba e chega a estação de São Luís. Esta estação está a apenas uns 300 metros da de Jaboticaba mas a uns 100 metros mais alta. A serra é tão íngreme que o trem de passageiros só descia com a locomotiva a vapor. Na volta ele vinha vazio e tracionado por uma à diesel (Coaraci Camargo, 2005).
Existem ainda alguns viadutos escondidos em meio a matas ou propriedades privadas. Na rota do antigo trem, existe uma cachaçaria que detém uma parte dos antigos trilhos e um viaduto, onde é possível praticar rapel – pagando valores de entrada na propriedade.
A Ferrovia do Vinho ficou esquecida durante muito tempo, mas o turismo (desta vez o de aventura) veio redescobri-la. E proporcionar uma volta ao passado agora com as pernas dos trilheiros!
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Sobre o autor:
Pablo Campozani, coordenador da Top Trip Adventure.