Eu preciso fazer, esse é o meu trabalho, eu vou fazer.
Existem pessoas me observando, eu estou nervosa demais para ver, mas eu posso sentir, existe uma expectativa na conclusão dessa atividade, por parte de muitas pessoas que contam com minha capacidade, meu sorriso e meu apoio, preciso fazer isso parecer fácil. Respira, um passo de cada vez, respira.
Mas eu gosto do que eu estou me dispondo a fazer? Sim! Mas isso não impede que eu me sinta insegura, não impede que eu tenha medo! E se eu falhar? Não impede que eu me pergunte várias vezes ao longo do caminho por qual razão mesmo eu inventei de fazer isso?
Eu poderia estar falando de uma cirurgia se eu fosse médica, ou de um requintado prato à ser servido ao mais exigente público, ou de qualquer outra atividade trivial do dia a dia, mas nesse caso eu estava falando de descer uma cachoeira de 70 metros em uma corda.
Se isso é difícil? Olha, depende de quem vai lhe responder essa pergunta. Tenho experiência em descidas de Rapel, Cascading, Pêndulo… inúmeras, dezenas, e nem por isso eu julgo fácil, ao contrário, por motivos alheios à minha paixão por essas atividades, adquiri em um determinado momento um bloqueio, um medo, um pânico, mas como diz o primeiro parágrafo: “é meu trabalho, eu preciso fazer, e eu vou fazer” repeti esse mantra em minha última aventura, toda vez que a voz interior dizia: “não, eu não consigo”, juro, que eu repetia: “não, não estou ouvindo, esse é meu trabalho, eu preciso fazer, eu vou fazer!”
Talvez poucos tenham notado meu pavor, meu pânico, meu medo de altura e de me machucar, ou percebido que o barulho delicioso da água jorrando cascata abaixo me fazia tremer.
Mas e dai? Realmente, sem medo de ser repetitiva, aquele era o meu trabalho, foi para aquilo que eu estava ali, eu precisava descer aquela cascata divando, passando segurança para meus clientes, sorriso no rosto, e espera-los logo abaixo registrando com minha máquina a satisfação, a realização e o prazer de cada um, por olhar para alto e ver do que foram capazes.
Isso é responsabilidade. Eu acreditava no que eu estava fazendo, e eu já havia aprendido que o meu medo não podia ser o único responsável por transmitir minha imagem, afinal, minha coragem deve valer mais, muito mais.
E eu também olhei para o alto, e um a um, cada pessoa que chegava ao meu lado, realizada, eu podia transbordar e sentir a satisfação.
E eu me lembrava, que fora ele, meu medo, que fez com que essa e tantas outras descidas de Rapel fossem possíveis para mim e para muitos amigos, pois para mim, se fosse para ser comum, se fosse para não trazer significado, não teria qualquer motivo de ser.
Eu só existo, porque sou cercada de desafios, alguns superados, outros em superação, mas todos muito claros.
Já caminhei quilômetros com medo de quebrar o pé, já pulei de pontes com a sensação de que poderia morrer por não viver aquele momento, já fiz descidas das mais altas em cordas dentro e fora d’água, e sempre, sempre, ao meu lado: o medo e a coragem – o que eu fiz com eles é que determinou naquele momento o que eu era e o que eu queria ser.
E você, quem vai te dominar hoje?
Essa é uma reflexão sobre o que você precisa fazer, e o que você faz.
O quanto você se desafia de verdade, o quanto você entende a diferença entre estabilidade e comodismo.
Nem tudo que é cômodo é estável, e nem tudo que é estável é saudável.
Mas certamente o medo e a coragem são as duas linhas mais tênues entre viver e existir.
Que entre um café e outro você descubra que aventura é decidir sair do lugar, e que você pode levar na mala e usar como quiser essas duas grandes bagagens de quem se arrisca.
Que você use o medo e a coragem à seu favor.
Julieli Ferrari dos Santos, sócia da Top Trip Adventure.